*Por Joacir Martinelli
“Chega o final de mais um dia e o peso do trabalho se faz presente, envolvendo-me em uma rotina interminável. Sacrifico meus momentos de lazer, meus hobbies e até mesmo compromissos pessoais, em prol das demandas incessantes do escritório. Essa jornada se tornou tão comum que nem minha família reclama mais da minha ausência tardia. Enquanto volto para casa, minha mente está mergulhada em uma mistura de frustração e ansiedade, questionando por que não consigo dar conta de todas as minhas responsabilidades.
A sobrecarga é palpável e as metas estabelecidas pela empresa parecem inatingíveis dentro de uma jornada de trabalho convencional. É como se eu estivesse preso em um ciclo de persistência, onde a única saída parece ser continuar lutando. No entanto, durante esse trajeto reflexivo para casa, uma ideia começa a surgir: talvez eu precise me organizar melhor, administrar meu tempo de forma mais eficaz.
Decido que no próximo dia farei as coisas de maneira diferente. Vou chegar ao escritório e elaborar uma lista de tarefas, priorizando-as e planejando minha jornada para dar conta de tudo. O dia seguinte chega e começo meu planejamento com determinação. Ao final do dia, olho para trás e percebo que fiz muito, mas ainda deixei muitas tarefas inacabadas. A culpa e a frustração voltam.”
Se essa história até aqui soa familiar, convido você a continuar lendo, pois pode descobrir uma armadilha na qual está preso e que tem consumido seu tempo sem que perceba. Por enquanto, chamarei nosso protagonista de “Atlas”.
Atlas, intrigado com suas constantes falhas de planejamento, decide observar mais de perto como seu tempo é consumido e o que o impede de seguir sua programação diária. Começa a perceber um padrão: grande parte de seu tempo é consumida pela necessidade de resolver os problemas de sua equipe e orientá-los em suas tarefas.
A maioria dos e-mails que recebe são de colaboradores, questionando sobre questões do dia a dia ou problemas que enfrentam no trabalho. Atlas, por sua competência, rapidamente responde e orienta sobre as soluções. No entanto, percebe que essa tarefa consome muito mais tempo do que gostaria.
Além dos e-mails, seus colaboradores também o procuram pessoalmente em busca de orientação. Por sua reputação de chefe acessível, Atlas sempre para suas atividades para dar atenção às necessidades deles. Percebe um padrão nesses encontros: os colaboradores relatam seus problemas e esperam que Atlas forneça uma solução pronta.
Essas interações consomem uma parte significativa de sua manhã. Durante uma reunião de supervisão, Atlas é confrontado com mais questões e impasses que consomem mais tempo do que o previsto. Ao retomar sua lista de tarefas, ele se depara com a difícil decisão de priorizar entre analisar um relatório estratégico e resolver um problema urgente; opta pelo segundo.
No final, ele acaba se estendendo além do horário de almoço para lidar com mais questões e orientar seus colaboradores. Sua própria carga de trabalho fica em segundo plano, e Atlas se encontra constantemente apagando incêndios ao invés de focar em tarefas estratégicas e prioritárias.
A situação de Atlas reflete uma armadilha comum na dinâmica entre gestores e suas equipes. A crença de que o gestor precisa sempre ter a resposta acaba gerando uma dependência prejudicial. Os colaboradores se acostumam a não pensar por si mesmos, enquanto o gestor se vê sobrecarregado com o trabalho dos outros.
Essa dinâmica não apenas sobrecarrega o gestor, mas também prejudica o desenvolvimento da equipe, que se torna dependente das respostas prontas do gestor e perde a capacidade de resolver problemas de forma autônoma.A equipe se “infantiliza”. Colaboradores nessa condição não conseguem exercer suas funções com autonomia, não fortalecem a “musculatura” para um próximo desafio de carreira
Se você se identifica com a situação de Atlas, saiba que há saída. Reconhecer essa armadilha é o primeiro passo para mudar essa dinâmica e promover a autonomia da equipe. Depois disso, há uma série de habilidades e de técnicas de liderança a serem aprendidas.
Sobre o Atlas: esse é o nome do titã grego que, castigado por Zeus, foi punido com a missão de ter que carregar o firmamento nos ombros pela eternidade. Se você não quer mais essa maldição, pare de “infantilizar” sua equipe, pois o mundo corporativo atual, definitivamente, não é lugar para crianças.