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INTELIGÊNCIA EMOCIONAL – Como utilizar os sentimentos a nosso favor

Emoções a nosso favor

Sabe a quela famosa frase que o comissário de bordo fala, quando estamos nos preparativos para o avião decolar: “em caso de despressurização, coloque a máscara primeiro em você antes de ajudar o próximo?” É uma ótima analogia para o gestor. Para que uma pessoa esteja legitimada a liderar outras, precisa antes ser líder de si, ou seja, saber se autogerenciar. E o gerenciamento emocional é uma das tarefas mais importantes neste sentido.

A carga sobre o gestor é grande. Há pressão por parte dos acionistas, do conselho, dos pares, de seus superiores diretos e dos colaboradores. Soma-se a isto os desafios colocados pela empresa, o volume de metas a serem alcançadas e as tarefas inerentes ao cargo. Não é à toa que a “Síndrome do Impostor” é um relato cada vez mais comum. Os profissionais acreditam que são uma farsa, que não mereciam o cargo que ocupam, que não vão dar conta do trabalho e que serão demitidos a qualquer momento.

Por isso, desenvolver a inteligência emocional é fundamental. Um gestor com essa competência consegue ajudar a equipe a fazer o mesmo, formando assim um time mais forte e seguro para alcançar os resultados esperados. É importante saber que gestão emocional não significa ter controle emocional. Ter controle seria como dominá-las e isso não existe. A gestão emocional é saber dimensionar as emoções de forma que não impactem negativamente em seus objetivos, na sua saúde. Não significa não as sentir. É possível regular as emoções e direcioná-las para nosso benefício.

Outra compreensão importante é que todas as emoções têm uma funcionalidade positiva. Por exemplo: a ansiedade e o medo nos preparam para um risco real. A raiva pode nos tornar mais aplicados para atingir nossos objetivos. A tristeza poderá abrir reflexões e críticas importantes sobre nós mesmos e sobre situações vividas, geralmente relacionadas a perdas. Mas quando não são bem gerenciadas podem ter um efeito colateral. Quando estamos em situações desconfortáveis – com medo, raiva, ansiedade – nossas emoções tendem a ser superdimensionadas, e dependendo da intensidade e da duração, afetam negativamente nossa reação e podem prejudicar o objetivo a ser conquistado.

A boa notícia é que todos podem melhorar sua gestão emocional. Há muitas técnicas para isso. Irei apresentar aqui a que mais acredito e que a uso constantemente, vendo os resultados na prática. Para começar, você precisa compreender melhor o mecanismo que gera uma emoção, e regula sua intensidade e sua duração. Provavelmente você tem uma compreensão equivocada sobre este mecanismo. Vamos checar?  Pense e me responda: o que você acha que provoca uma emoção? Provavelmente você dirá algo como: um acontecimento, um estímulo, um fato, correto? Isto está apenas parcialmente certo.

Porque se um acontecimento ou estímulo fosse o único desencadeador, o que deveria ocorrer quando todas as pessoas se deparam com aquele acontecimento? Todos sentiriam a mesma coisa. E é isso o que ocorre?  Por exemplo: quando uma pessoa é designada para fazer uma apresentação à diretoria, o que ela sente? Alguns certamente sentirão ansiedade e, provavelmente por isso, perderão o sono e, na hora da apresentação, ficarão tensos, gaguejarão e podem até ter uma performance abaixo do que conseguiriam se estivessem tranquilos. Já outras pessoas poderão ficar eufóricas com a oportunidade. Ora, mas não se trata do mesmo fato? Por que então emoções diferentes? Considere ainda que, mesmo os que sentem a mesma emoção diante do mesmo fato, a intensidade e a duração da emoção podem variar enormemente de pessoa para pessoa.

Aqui está o “pulo do gato”: entre o fato que normalmente desencadeia a emoção e o nosso comportamento acontece algo “no meio do caminho”. É a interpretação subjetiva do fato. Em milésimos de segundos, nosso cérebro traz pensamentos, algumas vezes inconscientes, relacionados àquela determinada situação. Os que se sentiram ansiosos em fazer a apresentação à diretoria provavelmente terão pensamentos do tipo: “vai me dar um branco, eles perguntarão coisas que eu não saberei responder, eu vou me queimar”. Os que ficaram eufóricos devem ter pensado “será uma ótima oportunidade para eu mostrar meu trabalho; eles irão gostar do que eu tenho a dizer”. O pensamento que você tem sobre o fato, ou seja, sua interpretação dele, mesmo que muito rápido, afeta a emoção, sua intensidade e duração.

Então, é preciso compreender que entre um acontecimento e a sua emoção existe um pensamento e tentar modificá-lo. Nós não conseguimos controlar os acontecimentos externos, mas podemos sim entender nossos pensamentos e adequá-los, nos questionar sobre eles. Desta forma, teremos uma emoção mais proporcional ao que está acontecendo e favorável ao nosso objetivo.

Ao se dar conta de que você sempre interpreta um fato, ainda que não tenha total consciência do que está pensando sobre ele, poderá utilizar uma técnica que se chama IDE: i) identificar seu pensamento; d) desafiar seu pensamento e e) escolher como se comportar.

A grande chave da gestão emocional está em conseguir conversar com você mesmo na hora em que uma emoção desproporcional está acontecendo. Ao perder o controle para esta não há nenhum benefício, pelo contrário, o objetivo a ser alcançado fica cada vez mais distante. Por isso, a primeira coisa a ser feita é se perguntar: “o que estou pensando sobre este fato e que me faz me sentir assim?” Racionalizar que somos nós mesmos que alimentamos a emoção com os nossos pensamentos. Esta é a etapa (i) da técnica IDE: identificar seu pensamento, sua interpretação do fato. É muito comum termos interpretações pessimistas, negativas, generalizadas ou mesmo catastrofização sobre o que está acontecendo.

Após trazer à consciência estes pensamentos, ou melhor dizendo, interpretações sobre o fato, o segundo passo é o de desafiar estas interpretações. Esta é a etapa (d) da técnica IDE: será que o que estou pensando é, de fato, uma realidade ou é apenas uma hipótese? Se você está em pânico por ter que fazer uma apresentação para a diretoria e se der conta de que está pensando que aquela irá te destruir (ou algo assim), questione-se: isto é uma verdade ou apenas um pensamento meu?  Quando você se conscientizar que é apenas um pensamento, poderá intencionalmente começar a pensar coisas mais realistas e, por que não, mais otimistas.

Praticamente em todas as situações que checarmos o pensamento e desafiarmos este conseguiremos uma reação emocional menor e que, inclusive, não irá prejudicar o objetivo a ser atingido. Ao estarmos com as emoções exacerbadas as chances de termos um desfecho negativo são maiores porque aí nossos comportamentos poderão não ser os mais adequados para aquela situação. Aqui entra a terceira letra da técnica IDE: o (e), de escolher como se comportar. Quando identifico meus pensamentos, questiono e relativizo os mesmos, minha emoção acaba sendo melhor dimensionada à situação e consigo pensar com clareza como devo agir diante dela. A gestão emocional depende muito disso: descobrir o que estamos pensando e colocar a prova esses pensamentos, que normalmente são inferências, generalizações e/ou catastrofização. E substituí-los por pensamentos mais realistas. Isso é um exercício constante. Não é simples, mas não é nada impossível. Ao praticar com frequência, vai ficando mais fácil, mais rápido e natural. É uma “alfabetização” emocional. Fazer a gestão emocional é, acima de tudo, aprender a conversar consigo mesmo.

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